Dois Homens, Um Sonho
Assim como George Lucas bebeu de várias fontes para criar Star Wars (como Kurosawa, Buck Rogers e Flash Gordon, só para citar algumas), assim também bebeu Georges Méliès para criar Viajem à Lua. Tal como a fantástica literatura de Julio Verne com “From the Earth to the Moon” (1865) e H.G.Wells, “First Man on The Moon” (1901). A velha, “nada se cria, tudo se copia” não pode ser tão ruim assim. Na verdade, quando temos uma veia artística, e queremos extravazar, normalmente algo ou alguém nos inspirou. Consulte o seu artista interior. 😉
Não poderia deixar de comentar que, além do mesmo primeiro nome que carregam (que é George) os dois não param aí na semelhança de suas histórias. Tal como o George americano, o George francês teve de vencer inúmeros pré-conceitos e acreditar em sua obra e sua visão para levá-la às telas de cinema e literalmente LANÇAR o gênero de ficção científica no meio cinematográfico de forma como nunca foi antes visto.
Uma vez que a película que tinha aproximadamente 20 minutos lhe custaria uma fortuna, Méliès teve muita dificuldade de angariar fundos. Somente após uma prévia de alguns minutos de filmagem para uma audiência, que era alvo de seus interesses, ele conseguiu dinheiro para desenvolver o filme. Essa prévia fora um sucesso.
O George americano passou por um perrengue parecido quando tentava convencer aos estúdios milionários de cinema de que um Wookie não era um macaco grande. Um dos executivos chegou a se irritar com o fato de não compreender “porque um macaco grande e peludo urrava como um urso”, e o pobre George sempre rebatia: “porque ele não é um macaco. É um wookie”. Lucas sofreu.
Méliès era um ilusionista assim como Lucas também. Méliès era a sua própria Industrial Light and Magic e fazia seus próprios efeitos especiais. Produziu mais de 550 filmes, a maioria curta metragens e apesar dos irmãos Lumiére terem sido os pais da linguagem cinematográfica, George Méliès foi brilhante com seus efeitos ilusionistas para encantar platéias diante das películas. O cinema fora um veículo brilhante para que ele pudesse expressar suas habilidades e truques.
O sucesso de Viagem à Lua (1902) foi imediato e internacional, porém, todo dinheiro arrecadado fora da França não foi direto para os bolsos de Méliès, devido a distribuição de cópias piratas por todo o território americano. É amigos, pirataria de mídia, em 1902. Tem coisas que não mudam nunca…
As similaridades entre Georges Méliès e George Lucas não param por aqui. Suas histórias se confundem no meio cinematográfico. A história de suas obras também. Se Stanley Kubrick me permitisse, eu diria que Star Wars de George Lucas relançou o gênero, que estava desacreditado nos anos 60 e 70, e abriu inúmeras portas em vários aspectos e lançou modas e padrões, como por exemplo, seqüências cinematográficas como as “trilogias” de filmes; o termo blockbuster para filmes com bilheteria estupenda; trouxe público arrebatador para o cinema com voltas e voltas de filas nos quarteirões; utilizou-se largamente de técnicas antigas e “novas” (naquela época) para contar sua história; tecnologia, ilusão e visão de vanguarda.
Não quero dizer que 2001 – Uma Odisséia no Espaço não tivesse feito parte disso (percebam que o hangar da Estrela da Morte é praticamente o mesmo que o hangar da base lunar em 2001), mas o que quero dizer é que Star Wars é especial. Em uma época em que Planeta dos Macacos, o original com Charlston Heston, custou U$33 milhões, Star Wars custou cerca de U$9 milhões. E olha só o que o senhor George Lucas e sua equipe de hippies-estudantes-sonhadores conseguiram nos mostrar. Foi a mesma sensação que a audiência há 75 anos atrás, lá no início do século sentiu ao ver aquele foguete espetado no olho da face da Lua, simplesmente GENIAL.
Portanto Méliès e Lucas tem muito mais em comum do que possa aparentar. Em épocas diferentes, criaram seus fenômenos pop que abalaram o mundo do entretenimento ocidental. Méliès tem os desbravadores que furaram o olho da lua com um foguete espacial…. Lucas tem Darth Vader e seus lightsabers. E nós temos sorte. Sorte de poder contemplar a visão maravilhosa que esses homens especias resolveram nos mostrar.
Dois Mestres. Dois Visionários. A mesma visão.
Curiosidade: O acervo de Méliès ainda é difícil de ser encontrado, porém, sua obra prima, Viagem a Lua de 1902, é ponto obrigatório para qualquer cinéfilo. E o melhor é que a obra está em domínio público. Pode ser baixada nesse link abaixo:
O George Americano a gente tá careca de conhecer. Falta agora o George Francês.
Vai me dizer que você não vai conferir? 😉
Alexandre Vader.